Da Amizade
Ainda existe a amizade no mundo contemporâneo, dominado pelo mercado e pelos interesses económicos, pela competição pelo poder? Julgo que sim, embora com pouco espaço, há lugar para as relações pessoais sinceras.
A amizade continua a ser uma componente essencial da nossa vida, provavelmente na mesma medida que o foi no mundo antigo.
Confúcio enumerava cinco tipos fundamentais de relações interpessoais: a relação entre imperador e súbito, entre pai e filho, a relação entre homem e mulher e a do irmão mais velho para com o irmão mais novo. Todos estes quatro tipos de relação são hierárquicas, entre superior e inferior. Uma quinta relação, não hierárquica, que se estabelece entre iguais: a Amizade.
Caminhando para a época moderna encontramos amizades em que são mais importantes a cultura e a política. Exemplos disso são, Dante, Guido Cavalcanti e Lapo Gianni, três poetas de Florença dos anos 1200; a amizade entre Marx e Engels, que influenciou toda a política comtemporânea.
A amizade não tem um único significado, mas vários. Não só nos dias de hoje como também já o tinha há 2000 anos com Aristóteles.
Aristóteles procurou distinguir diversos tipos de amizade. A que existe com base no interesse e a que se apoia na virtude, a "verdadeira amizade".
Os significados mais comuns da palavra "Amizade" são: Primeiro significado - os conhecidos. Temos com eles boas relações, mas não temos uma confiança profunda. Segundo significado - solidariedade colectiva. Devemos distinguir a amizade da solidariedade. A solidariedade nada tem de pessoal, estamos em presença de ligações colectivas, não de relações rigorosamente pessoais. Terceiro significado - relações de posição. É a classe das relações de tipo pessoal, mas baseadas na posição social. Este tipo de ligações tem pouco de afectivo, e dura enquanto dura o interesse a salvaguardar. Exemplos deste tipo de ligações são relações profissionais, em colegas de trabalho e em vizinhos . Quarto significado - simpatia e trato amigável. É a categoria das pessoas com quem nos sentimos bem, que são simpáticas, que admiramos. Devemos ser cautelosos na utilização da expressão "Amizade"; muitas vezes trata-se de estados emotivos transitórios, superficiais.
"Amizade", intuitivamente, esta palavra lembra-nos um sentimento sereno, límpido, feito de fidelidade, de confiança.
"Amigo é aquele a quem agrada e que deseja fazer bem a outro e que espera que os seus sentimentos sejam retribuídos". A amizade situa-se no mundo dos sentimentos altruístas e sinceros. "Amar é querer fazer o outro feliz".
A amizade do amigo pessoal a quem queremos queremos bem e que nos quer bem, este tipo de amizade, pertence a uma classe mais restrita de relações interpessoais: as relações de amor. É uma forma de amor entre as pessoas.
O amor da amizade é de tipo especial e deve ser límpido. A amizade aparece com uma série de encontros e sucessivos aprofundamentos. A amizade tem muitas formas e muitas graduações. A amizade caminha para o mais. A amizade tem horror ao sofrimento, quando pode, evita-o. A amizade exige sempre qualquer tipo de reciprocidade.
Na amizade não há lugar a ódio, se eu odeio um amigo meu, já não sou seu amigo, a amizade acabou. Do amigo espero que compartilhe a imagem que faço de mim próprio ou, pelo menos, que não se afaste demasiado dela. Os dois amigos devem ter imagens recíprocas similares.
(in "A Amizade", Alberononi, F., Bertrand Ed.)